quinta-feira, 2 de junho de 2011

MP quer ‘completa elucidação’ das mortes no Hospital da Criança 

A morte de 13 bebês em 47 dias, seis deles devido a infecção hospitalar, no Hospital Municipal da Criança, levou a promotora de Justiça da Infância e da Juventude, Renata Gonçalves de Oliveira, a abrir inquérito civil sobre o caso para a “completa elucidação dos fatos, determinando a coleta de informações, depoimentos, realização de perícias e demais diligências visando a tomada de medidas judiciais ou extrajudiciais cabíveis.”

Depois da vistoria realizada pela Vigilância Sanitária estadual, que constatou diversas irregularidades, o estabelecimento foi interditado anteontem.

A secretaria da Saúde do Estado também determinou a transferência dos quatro bebês que estavam internados na UTI da unidade e suspendeu novas admissões de pacientes na terapia intensiva do hospital.

“Durante a vistoria foram constatadas irregularidades como problemas relacionados ao controle de infecção hospitalar, manutenção predial, falta de capacitação dos funcionários em relação a procedimentos de esterilização e limpeza de equipamentos e climatização inadequada do ambiente. A interdição valerá até que o hospital providencie as adequações relativas aos problemas apontados na inspeção”, informaram as autoridades sanitárias do Estado.

No inquérito aberto pelo MP, a promotora informa ter recebido denúncia anônima, por telefone, no dia 24 de maio.

Em seguida, foi intimada a diretora do estabelecimento, Dra. Heloísa Helena Sampaio Ferreira de Castro, que confirmou os fatos, e acionado o Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde. O MP exigiu do hospital a remessa de cópias completas dos prontuários das 13 crianças mortas na UTI, relatórios individuais subscritos pelos médicos que atuavam nos plantões, nomes e qualificações de cada uma das equipes multidisciplinares que atuavam nos plantões em que ocorreram as mortes, cópias das atas de reunião e pareceres da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e outros documentos.

Também foi solicitado ao Centro de Apoio às Promotorias de Justiça Cíveis demandas junto ao CRM (Conselho Regional de Medicina) (Conselho Regional de Enfermagem) e ao COREN para que as visitas de inspeção sejam realizadas com a máxima urgência nas dependências do hospital guarulhense.

Elevada mortalidade de recém-nascidos na unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal da Santa Casa de Misericórdia de Suzano também está sendo analisada pela Vigilância Sanitária do Estado, que ainda não chegou a uma conclusão depois de ter iniciado uma investigação em função de 17 óbitos registrados entre janeiro em maio deste ano. Um parecer técnico do Grupo de Vigilância Sanitária da Prefeitura de Suzano, entretanto, descartou, em princípio, a infecção hospitalar como causa da morte dos bebês naquele município.

Infectologista defende fiscalização

A infectologista Thaís Guimarães, presidente das comissões de controle de infecção hospitalar no Hospital das Clínicas e no Servidor Público, na capital, afirma que a qualidade dos procedimentos preventivos varia muito de instituição para instituição. “O padrão de procedimento é o mesmo: lavagem das mãos, luvas, aventais, germicidas etc. O que ocorre é que muitas comissões encarregadas da prevenção existem apenas pró-forma. Daí é preciso que a Vigilância Sanitária exerça seu papel fiscalizador”, disse a doutora ao DG.

Sobre a ocorrência de casos semelhantes em Suzano e Guarulhos, duas cidades do Alto Tietê, num breve espaço de tempo, a especialista não descartou a possibilidade de que alguma bactéria possa ter migrado utilizando um funcionário da área médica que trabalhe nas duas instituições como hospedeiro. “Casos desse tipo existem. Mas é preciso primeiro investigar se houve mesmo mortes por infecção e se a bactéria encontrada na Santa Casa de Suzano é a mesma de Guarulhos. Só a Vigilância Sanitária do Estado poderá afirmar isso.”

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