Carlos Derman chega aos 60 anos dedicando-se à dupla função de secretário da Saúde e vice-prefeito. Foi líder estudantil, dirigente sindical e vereador pelo PT. Disputou a Prefeitura em 1996, “fazendo campanha num fusquinha.” Hoje os tempos são outros, “democráticos”, e a cobrança por uma saúde melhor é aberta - e penosa. “Não há dinheiro que chegue, apesar de 30% do orçamento municipal serem destinados ao setor”.
Diário de Guarulhos – Há muita grita sobre o sistema público de saúde em Guarulhos. Com responde a elas?
Carlos Derman – A saúde sempre será alvo de reclamação de muitos. Isso porque, por maiores sejam os investimentos feitos no setor, sempre que alguém fica doente quer ser atendido na hora e com qualidade. Isso nem sempre é possível. É preciso considerar que a Prefeitura investe cerca de 30% do orçamento em saúde. Não há como exigir mais. Até porque os recursos para outras áreas, como saneamento, habitação, esporte e outras, acabam influenciando também a saúde dos cidadãos. Temos hoje uma demanda superior à nossa capacidade de atender com rapidez. Isso é evidente. Guarulhos cresceu muito a partir dos anos 60, a população multiplicou por três e serviços públicos não foram ampliados na mesma proporção. Nos últimos onze anos, entretanto, a Prefeitura aumentou a oferta dos serviços. Mas reconhecemos que é ela ainda insuficiente. Vale lembrar o crescimento da população de idosos, um contingente que requer cuidados especiais e mais onerosos.
DG – Quais são as maiores deficiências?
CD – A quantidade de leitos hospitalares não é suficiente. Faltam alguns serviços de alta complexidade, principalmente em oncologia. Temos menos oferta de fisioterapia do que o necessário e também poucos médicos em algumas especialidades. Mas este último não é só um problema de Guarulhos. Ocorre em todo Brasil. Apesar de termos elevado os salários desses profissionais em 30% nos últimos anos, é difícil preencher todas as vagas. Guarulhos tem só 750 médicos residindo na cidade. Só a Prefeitura emprega 1.500. Então existe o problema de deslocamento. Além, é claro, da ausência de uma faculdade de medicina aqui.
DG – Quais pontos avançaram?
CD – Damos prioridade à atenção básica, nas UBSs (Unidade Básica de Saúde). São 68 atualmente. Estamos erguendo mais duas, a Nova Bonsucesso e Parque Primavera, até o final do ano. O problema não é tanto a quantidade, mas a má distribuição. Algumas instalações são adaptadas. Estamos trabalhando nisso também. Zeramos a fila para mamografia, eletroneuro e outros exames. Também considero altamente relevante o atendimento residencial. Muitos pacientes não necessitam de internação, uma condição que favorece a propagação de infecções e prejudica psicologicamente o indivíduo. Nosso Hospital Municipal de Urgência (HMU) está atendendo uma média de 50 pacientes/mês em suas residências. Não chega a ser um home care, pois não temos cuidadores fixos ou equipamentos móveis complexos, mas fornecemos medicamentos, insumos, visitas periódicas de forma a ajudar na recuperação. O mesmo serviço existe nas UBSs. Até fraldas geriátricas e oxigênio os pacientes recebem em seus lares.
DG – O hospital Carlos Chagas acaba de fazer importante ampliação de suas instalações. Como compara essa instituição com a rede pública?
CD – Felicito o Carlos Chagas por essa conquista. Em Guarulhos, cerca de 40% da população têm plano de saúde, o que permite atendimento em hospitais privados. É bom lembrar, entretanto, que a maior parte desses usuários muitas vezes é obrigada a recorrer ao SUS, seja para hemodiálise, remédios e outros casos, como longa permanência em UTI. De qualquer forma, o sistema particular de saúde desafoga a demanda da rede pública. Mas recebemos muitos pedidos de transferência para o SUS. A Prefeitura também auxilia hospitais filantrópicos deficitários, como o Stella Maris e o Jesus, José e Maria.
DG – Qual sua avaliação hoje sobre o elevado número de mortes no Hospital Municipal da Criança em 2011, o que levou à interdição da UTI?
CD – A interdição foi feita pela Vigilância Sanitária do Município e do Estado. Percebemos que a maioria dos 14 óbitos registrados num curto período de tempo ocorreu em pacientes portadores de doenças graves, inclusive vindos de outras cidades. Só em dois ou três casos existe a suspeita de infecção hospitalar, um fenômeno até certo ponto comum nesse ambiente. Depois da interdição, reformamos a instalação e ministramos novos treinamentos ao pessoal encarregado. Afirmo que eram cumpridos, ao menos minimamente, os regulamentos sanitários. Mas é sempre possível melhorar. É o que estamos fazendo.
DG – Em relação às drogas, quais as ações do município?
CD – Além do trabalho do CAPS (Centro de Atenção PsicoSocial Álcool e Drogas), estamos estruturando um abrigo para menores dependentes. Nosso Consultório de Rua vai atrás dos pontos de viciados, como na chamada cracolândia da favela Parmalat, na Vila Galvão, transportando uma equipe multidisciplinar de atendimento. Evitamos a associação com o polícia para não afastar as pessoas que necessitam de auxílio.
DG – Como responde aqueles que o criticam por não ter formação na área de saúde?
CD – Gerir a saúde do município é um trabalho de equipe. Envolve aspectos econômicos, jurídicos, médicos e outros. Ninguém tem formação tão ampla assim. Felizmente, trabalho com uma equipe de alta qualidade, sem a qual não seria possível realizar o que estamos fazendo.
DG – A saúde será tema eleitoral este ano?
CD – A saúde é e sempre será um tema muito explorado nos debates políticos. Vira vidraça em época de eleição, como esta. E não faltam aqueles prontos a disparar seus estilingues. Mas estou disposto a debater com quem se apresentar.
DG – Pretende acompanhar o prefeito na busca pela reeleição?
CD – Estou à disposição da coligação que governa Guarulhos. Sou um militante. Tenho orgulho de estar servindo administrações preocupadas com a saúde da população, a do Elói Pietá e do atual prefeito, Almeida. Preservo meus ideais da juventude, focados nas transformações sociais, só que agora vivo num País muito mais justo e democrático.
Fonte:diariodeguarulhos.com.br
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