terça-feira, 21 de junho de 2011

Elói Pieta - Para o Bispo, a vítima é a culpada

“Sua cruel metáfora significa que a mulher estuprada, como regra, teria culpa”
Fiquei indignado com a forma como nosso bispo dom Luiz Gonzaga Bergonzini tratou as mulheres em entrevista dada ao jornal “Valor Econômico”, publicada no dia 13 de junho. Até liguei para a jornalista Cristiane Agostine, que o entrevistou, para saber se as declarações tinham sido gravadas, e tinham; se era aquilo mesmo, e era.

Sobre o aborto em caso de estupro, permitido em lei no Brasil desde 1940, o bispo diz: “Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que foi vítima... É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é difícil”, comenta. O bispo ajeita os cabelos e o crucifixo. “Já vi muitos casos que não posso citar aqui. Tenho 52 anos de padre... Há os casos em que não é bem violência... (A mulher diz) ‘Não queria, não queria, mas aconteceu... ’, diz. Então, sabe o que eu fazia?” Nesse momento, o bispo pega a tampa da caneta da repórter e mostra como conversava com mulheres. “Eu falava: bota aqui”, pedindo, em seguida, para a repórter encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe. “Entendeu né?” Tem casos assim, do “ah, não queria, não queria, mas acabei deixando”. Esta cruel metáfora, desrespeitosa com as mulheres, significa que a mulher estuprada, como regra, teria culpa. Ela seria meio vítima, e o agressor teria então sua culpa atenuada. Argumento adequado para uma sociedade machista e patriarcal, que protege os homens penalizando as mulheres. Toda mulher seria uma “Eva” que leva o pobre do homem ao pecado.

Os argumentos de nosso bispo nos trazem à memória o arcebispo de Recife, dom José Cardoso Sobrinho, que ficou mundialmente famoso em 2009 quando excomungou o médico e equipe que realizaram o aborto legal numa menina de nove anos, de 1m e 36 centímetros, que pesava 33 kg, grávida de gêmeos do padrasto que a estuprou, este poupado da excomunhão.

São atitudes de fundamentalismo religioso, ainda bem que minoritárias dentro da Igreja, como já comprovado em outros momentos. Elas lembram os tempos da Inquisição, irmã católica da monarquia absoluta, que partia do princípio de a verdade estar sempre e só com os prelados da Igreja, a quem cabia o monopólio da interpretação da palavra divina. Quem deles divergisse, era perseguido, excomungado, e, na época, entregue ao poder absoluto dos reis para ser queimados vivos na fogueira. Hoje só restou, para os saudosos daqueles tempos, a repressão da Igreja porque o poder absoluto foi afastado pela democracia. Infelizmente nossa cidade vive a presença deste fundamentalismo. Ele estreita, ele cega, ele afasta, ele é rude, ele abomina o diálogo, ele prega o ódio e não o amor.

Fonte: http://www.dgnews.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário